uma vez a polícia alvejou-me.
a história tem os seus quês. eu conto-te:
apanharam-nos num automóvel gamado
cercaram-nos
mandaram-nos sair do chaço
e apoiar as mãos na parte de trás
da mala para
nos revistarem
algemarem
nos levarem de cana.
era sexta-feira. no sábado
tinha pensado estrear roupa para ir todo
catita
à discoteca
a meter-me com as gajitas.
não hesitei dei a volta e desatei a correr.
estava perto a esquina da salvação.
um dos chuis gritou-me:
PÁRA, FILHO DA PUTA, OU MATO-TE!
atirou
disparou a 5 metros de distância
e falhou
escapei
vesti a minha roupa nova
dei show.
mas o importante da história
é o que eu digo sempre:
devia ter acertado
devia ter-me matado nesse mesmo instante
quando não tinha medo da morte
quando ainda era
feliz.
david gonzález
trad. gs
a partir do texto original em
poesia espanhola, anos 90
joaquim manuel magalhães
relógio d´água
2000
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