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29 junho 2012

david gonzález / a caminho das sentinas







As ratazanas.

As da prisão.

A que pegámos
fogo
no centro do pátio.

Arrastavam pelo chão
com o seu corpo coberto
de chamas,
a camino das sentinas.

O Papuchi dizia:

Isso é porque
as grandes putas
sabem
que nas retretes
água

Não acredito.

Arrastavam-se nessa direcção
por ali terem a sua casa
por quererem morrer
cercadas pelos seus.

Como se fossem
seres
humanos.

Não importa,
que me lembre,
nenhuma
conseguiu
chegar.

Nenhuma.

Nunca.

Chegar.




david gonzález
poesia espanhola, anos 90
trad. de joaquim manuel magalhães
relógio d´água
2000



19 junho 2007

tango azul





uma vez a polícia alvejou-me.
a história tem os seus quês. eu conto-te:


apanharam-nos num automóvel gamado
cercaram-nos
mandaram-nos sair do chaço
e apoiar as mãos na parte de trás
da mala para
nos revistarem
algemarem
nos levarem de cana.
era sexta-feira. no sábado
tinha pensado estrear roupa para ir todo
catita
à discoteca
a meter-me com as gajitas.
não hesitei dei a volta e desatei a correr.
estava perto a esquina da salvação.
um dos chuis gritou-me:


PÁRA, FILHO DA PUTA, OU MATO-TE!


atirou
disparou a 5 metros de distância
e falhou
escapei
vesti a minha roupa nova
dei show.


mas o importante da história
é o que eu digo sempre:

devia ter acertado

devia ter-me matado nesse mesmo instante

quando não tinha medo da morte

quando ainda era

feliz.










david gonzález
trad. gs
a partir do texto original em
poesia espanhola, anos 90
joaquim manuel magalhães
relógio d´água
2000