01 março 2007

isto é o meu corpo




Isto é o meu corpo. Aquí
coincidem a linguagem e o amor.
A soma das linhas
que escrevi desenhou
não o meu rosto, mas qualquer coisa mais humilde:
o meu corpo. Isto que tocas é o meu corpo.
digo-to
de outra maneira. Isto que tocas
não é um livro, é um homem.


Eu acrescento que isto que te toca agora
é um homem.
Sou eu, porque não há
nem uma única sílaba que esteja livre de amor,
não há nem uma só sílaba
que não seja um centímetro
quadrado da minha pele.
No poema sou acariciável
não menos que na noite, quando tenho
o meu sonho paralelo ao sonho que amo.
Não mosaico, nem número, nem soma.


Não é só isso.
Isto é uma entrega. Sou pequeno
e grande entre as tuas mãos.
Esta é a minha salvação. Este sou eu.
Este rumor do mundo é o amor.








gonzález iglesias
esto es mi cuerpo
trad. gs
visor, Madrid
1997





3 comentários:

Anónimo disse...

É lindíssimo este poema, situado quase entre o vísível e o invisível, entre o tocável e o imaginado, entre um ser humano e um objecto, quase "sacrílego" (como o corpo de cristo na missa: "Este é o meu corpo").
Belo.

Photoptero disse...

fico com sou pequeno e grande...

lena disse...

primeiro parabéns pela tradução, sinto-te nesta linguagem

depois o poema é excelente, um bom momento
que toca mesmo no imaginário…

"isto é o meu corpo" eu digo: toca-me para passar a existir em cada sílaba

gil, parabéns, por tudo


abraço-te com uma grande ternura

beijinhos

lena