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15 fevereiro 2025

regina guimarães / catalogue raisonné

 
 
 
Havia essas manhãs imaginárias
em que o sol passava debaixo da porta
como uma carta breve, um magro recado,
e essas outras
históricas
em que o sol arrombava a porta
sem historiador.
 
Saíamos mais cedo do que o costume
para confiar a palavra a um transeunte
embrulhada num pano muito branco.
 
E o primeiro com quem dávamos de cara
era mendigo e tão pedinte
que a nossa espinha se curvava
em jeito de amor envergonhado
porque outro sentimento não nos ocorria.
 
Corríamos contra o tempo.
Pela rua fora
aos encontrões
furávamos caminho por entre a multidão mole
e o ar duríssimo.
 
O que fazíamos pelas más razões
voltaríamos a fazer
a cometer
cada vez mais gratuitamente.
Sempre em nunca
ávidos de nunca
sem sempre.
 
 
 
regina guimarães
voo rasante
antologia de poesia contemporânea
mariposa azual
2015
 



09 fevereiro 2023

regina guimarães / outras gravidades

 




 
Da futura nudez se vestem os factos
mas fio a fio se desnudam horizontes
imitando o que morre ou mata
pois ao nó na garganta seremos reduzidos
se acaso nos julgarem com distinta lata
 
Contudo enlameada vou e voo
sob o signo da pesada lei das asas
acima dessa forca e das minhas forças
abraçando a precisão das bancarrotas
que paira sobre os espírito das casas
 
E se vergonha tenho
é do que ainda não penso
é do que penso e me é estranho
é deste sangue em suspenso
é desta roupa sem corpo
interior e exterior ao mesmo tempo.
 
 
 
regina guimarães
nervo/17 janeiro/abril 2023
colectivo de poesia
2023