Mostrar mensagens com a etiqueta raul de carvalho. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta raul de carvalho. Mostrar todas as mensagens

12 setembro 2020

raul de carvalho / post-scriptum



(«Que orgulho sinto de escrever que fiz versos hoje!»)

– numa carta de António Ramos Rosa



Tudo vem a seu tempo.
Um passo, um passo mais…
E estamos nos domínios
Das coisas irreais.

Aí é que nós todos
– Os loucos, os profetas –
Temos direito ao orgulho
De ser poetas.

Porque, depois de tudo
Somado e diluído,
Não há nada melhor
Que amar e ser amado.

Por isso vale a pena
Não ter menos nem mais
Que a alegria – plena! –
Das coisas irreais.


raul de carvalho
versos ( poesia II )
1958






11 abril 2012

raul de carvalho / para um novo livro de cesário verde





                                     ao Sebastião Fonseca


Eles tomam cerveja, ambrosia, licores,
oleosos, sagrados como discos lunares.
Do azul da gravata ou da fímbria das ondas
retiram pensamentos ociosos e puros.

Recolhem-se de noite às oliveiras mansas
duma infância passada em louco desafio.
Ou então, nos portais, em amoroso convívio,
fingem que já não temem a noite nem o frio.

Já não têm família e mastigam, sozinhos,
um jovial jantar, colorido e minúsculo,
que haviam de comer, num domingo qualquer,
entre amigos cantando, entre mulheres amando.

Têm as caudas leves e subtis dum peixe,
têm um planeta adormecido e exangue,
têm os olhos líquidos, de asfódelo ou de cobre,
esses seres mitológicos que asfixiam a Terra.

São eles que caminham, irreais e aos tombos,
pondo nódoas de espanto por cima dos telhados.
Eles é que me deram o título deste poema:
A  Cidade Está Cheia de Homens Assassinados.





raul de carvalho
o surrealismo na poesia portuguesa
organização de natália correia
frenesi
2002





02 julho 2011

raul de carvalho / amiúde

 
.
.
.
No vale dos afectos
ninguém está seguro:
mingua a lembrança,
Esquece-se o rosto,
Retorna-se ao eu,
Os lábios secam, as palavras dormem, os sonhos dispersam-se, a
presença ausenta-se, há o lago de que não se vê o fundo –
 
E apenas as pequenas ilusões
- um café, o cigarro, a limonada –
Imitam dois corações unidos…
 

 


raul de carvalho
rosa do mundo
2001 poemas para o futuro
assírio & alvim
2001
.
.
.
.