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12 janeiro 2009
pedro s. martins / sem título
voei na dança de nuvens vermelhas
pejos testemunhas daqueles
que no mais simples exercício de lucidez
nunca conseguiram elevar os pés acima do sonho. e vi
copas de velas humanas amedrontadas pelo cinza das
almofadas indefinidas. fumos negros saídos das
vossas línguas infaustas
incapazes de serem filtrados pelos cardumes
de peixespecado que moram
na vossa saliva agreste
agora que o sol desbaratou as nuvens que me eram colmo
resta-me esperar que o gritar do fogo
me guie até casa
pois quando vir tudo pintado com o filho
do laranja vermelho incandescente
saberei certamente
que o meu legado é consumido a par com o mundo
pedro s. martins
04 dezembro 2008
pedro s. martins / aranha rainha
atirei uma caneta ao ar para que ela escrevesse na cortina do sonho:
" não preciso do teu pulso para desenhar letras". era aranha
rainha que tecia a tinta preta este poema na sua teia. não
estava à espera de apanhar insectos,
apenas alegorias à pessoa.
sempre que uma ficava presa, com as patas, não a matava, estimulava
o fim precoce dos sentimentos. dos bons dos maus e quando havia nuvens
no céu florido dos perversos.
manta de emoções, retalhos de vidas, sonhos eternos, rostos estacados
em corpos que não lhes pertenciam.
agora,
que acordo para nunca mais adormecer,
pressinto que me capturaste tudo que tinha e o deglutes na
paz do teu sono obreiro.
não queria ser eu a ter que te dizer isto, mas:
sou pele de cobra dos mil fôlegos: regenero-me sazonalmente. renasço
do que capturaste e renascerei as vezes que estender a tua
teia manto de razão errada em mim.
pedro s. martins
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