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23 janeiro 2022

nydia bonetti / a dor é uma canção…



 
a dor é uma canção colada numa pedra
que vai ao fundo
de qualquer poça d´água
rio
ou mar – água qualquer onde se possa
se afogar
 
 
 
nydia bonetti
& natália gregorini
de barro e pedra
editora urutau
2017





 

21 abril 2018

nydia bonetti / caminho






caminho arranhando meus pés sobre as pedras
quentes

gosto

do som das rodas que se arrastam sobre
concreto

fatídicas vias [de fato]

gosto
do som da vida em seu eterno arrastar-se
                                                                  sobre/tudo



nydia bonetti
& natália gregorini
de barro e pedra
editora urutau
2017






22 dezembro 2015

stella zagatto paterniani / requiem



que me escreva cartas de amor com toda a frequência
                                                                                                 possível
mas não a frequência exata que as exima de me surpreender.

que me console e carregue e acolha
sob chuva ou arco-íris
que me pinte
(ar de rua, suor, carinho no enlace dos dedos,
penumbra, dança, insustentável força e meneios)
em cores sem nome

e me beije, que me beije como a única mulher a ti jamais
                                                                                                entregue
conhecida em alma

e teu corpo me sonha.

e que, acima de tudo meu amor
saiba quando calar.


stella zagatto paterniani
natália gregorini
deleites e ladrilhos
editora medita
2013




25 junho 2014

stella zagatto paterniani / mourning



enquanto ouço confissões a olhos brilhantes
de sonhos reveladores
transbordantes d´alento
fico eu cá com minh´aflição:
sonho elefantes rajados de rosa
que esguicham água em silêncio
e nem sei se me respingo:
não porque acordo, mas porque decorre
sono pesado e sem sonhos.
e nada recordo ao amanhecer.



stella zagatto paterniani
natália gregorini
deleites e ladrilhos
editora medita
2013



27 dezembro 2013

stella zagatto paterniani / em festa



os anjos que me circundam (eu sei)
são anjos desfigurados com cabelos cinzentos e
asas (como devem tê-las os anjos)
são fortes e sorriem e dançam e (também sei)
se alegram quando me ilumino.


digo, por isso às vezes
me brotam lágrimas e falta o ar
─  porque esses anjos querem
(esquecem sua condição celestial)
brindar a vida e no regozijo ─  tão se excedem
e vêm a mim todos alegres pelo tempo que há.




stella zagatto paterniani
natália gregorini
deleites e ladrilhos
editora medita
2013