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22 dezembro 2015

stella zagatto paterniani / requiem



que me escreva cartas de amor com toda a frequência
                                                                                                 possível
mas não a frequência exata que as exima de me surpreender.

que me console e carregue e acolha
sob chuva ou arco-íris
que me pinte
(ar de rua, suor, carinho no enlace dos dedos,
penumbra, dança, insustentável força e meneios)
em cores sem nome

e me beije, que me beije como a única mulher a ti jamais
                                                                                                entregue
conhecida em alma

e teu corpo me sonha.

e que, acima de tudo meu amor
saiba quando calar.


stella zagatto paterniani
natália gregorini
deleites e ladrilhos
editora medita
2013




25 junho 2014

stella zagatto paterniani / mourning



enquanto ouço confissões a olhos brilhantes
de sonhos reveladores
transbordantes d´alento
fico eu cá com minh´aflição:
sonho elefantes rajados de rosa
que esguicham água em silêncio
e nem sei se me respingo:
não porque acordo, mas porque decorre
sono pesado e sem sonhos.
e nada recordo ao amanhecer.



stella zagatto paterniani
natália gregorini
deleites e ladrilhos
editora medita
2013



27 dezembro 2013

stella zagatto paterniani / em festa



os anjos que me circundam (eu sei)
são anjos desfigurados com cabelos cinzentos e
asas (como devem tê-las os anjos)
são fortes e sorriem e dançam e (também sei)
se alegram quando me ilumino.


digo, por isso às vezes
me brotam lágrimas e falta o ar
─  porque esses anjos querem
(esquecem sua condição celestial)
brindar a vida e no regozijo ─  tão se excedem
e vêm a mim todos alegres pelo tempo que há.




stella zagatto paterniani
natália gregorini
deleites e ladrilhos
editora medita
2013



30 novembro 2013

stella zagatto paterniani / entre magias



mágico é ter fome todos os dias e saciá-la;
mágico é um cãozinho latir em sol maior;
magia: cubro-me com a lona do circo
e ainda assim sinto frio.

porque sinto meus pelos e poros, um a um,
sei: é mágico meu corpo, ele sabe (e me diz
que não vai amanhecer sol de cegar).

é fácil prever o caminho da formiga:
ela não vai entrar no meu umbigo.
é mágico como as estrelas não caem
e somem e aparecem e somem aparecem e aparecem
quando não olho e olho
elas somem

(nem vai passar o cheiro de merda e mijo,
— meu nariz sabe e mesmo assim durmo)

as lágrimas se formam atrás dos olhos e explodem
                                                      [enquanto grito

sob a lona-cobertor e meus pelos,
um a um, se amansam.

ouço um murmurinho, alguém vem trazer pinga.
durmo bem, acordo quente e com o maior coração do
                                                                  [mundo.



stella zagatto paterniani
euOnça
ano_um_volume_um
editora medita
2013