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É tarde e a pele diz o fundo
instante onde somos, o avesso
do trânsito comum, - quase regresso
a quanto, espelhando, é segundo
feroz proposição, risco e fim.
E em nós, sem suporte, vamos indo
no sulco disponível; se, partindo,
por dentro do excesso só assim
havemos nosso nomes, ou nossa parte.
Nem canto nem imagem são bastantes
a quem supôs haver, embora incerta,
verdade que se queira ter por arte.
E o medo persiste onde, errantes,
os pés tocam o chão, a descoberta
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passagem por que vivos renascemos:
subindo, na confrontação do lume,
escarpas e desvios, - esse cume
mais alto que a nós mesmos o demos,
exacto, como construção secreta.
Por ele nos mudamos; e depressa
a voz fere a noite, atravessa
a boca e a mão que vai directa
ao cimo ou ao corpo mais preciso.
Inesperado dom! e só aí
a perna e a luz correm a par
ou formam novo trilho, indiviso.
E o passo aumenta onde o vi-
tal sopro dá ao termo seu lugar.
diogo alcoforado
hífen 11 maio 1998
o sitio das nascentes
cadernos semestrais de poesia
1998