Não é fácil mudar de casa,
de costumes, de amigos,
de segunda-feira, de varanda.
Pequenos ritos que nos foram
fazendo como somos, a nossa velha
taberna, cerveja
para dois.
Há coisas que não arrasta a bagagem:
o céu que levanta uma persiana,
o cheiro a tabaco de um desejo,
os caminhos batidos do nosso coração.
Não é fácil desfazer as malas um dia
numa chuva diferente,
mudar sem mais de lua,
de névoa, de jornal, de vozes,
de elevador.
E sair para uma rua que nunca pressentiste,
com outros pardais que já
não te perguntam, outros gatos
que não sabem o teu nome, outros beijos
que não te vêem chegar.
Não, não é fácil mudar agora de chaves.
E muito menos fácil,
já sabes
mudar de amor
ángeles mora
poesia espanhola de agora I
trad. joaquim manuel magalhães
relógio d´água
1997