27 setembro 2023

wallace stevens / mulheres vulgares



 

Então da pobreza delas se ergueram,
Dos catarros secos, e para as guitarras
Esvoaçaram
Através dos muros do palácio.
 
Atiraram para trás a monotonia,
Distraídas da sua penúria, e, indolentes,
Abarrotaram
Os átrios nocturnos.
 
Os camarotes envernizados repletos ali
Murmuravam zia-zia e a-zia, a-zia.
O luar
Defraudava os candelabros.
 
E os vestidos frios que usavam,
Na vápida neblina das janelas de sacada,
Ficavam sossegados
Enquanto inclinadas observavam
 
Dos peitoris das janelas os alfabetos
Beta b e gama g,
Estudando
Os arabescos oblíquos
 
Do céu e do celestial argumento.
E aí leram acerca do leito nupcial.
Ti-lili-oh!
E leram longamente.
 
Os magros guitarristas nas cordas
Arranhavam um-dia e um-dia, um-dia.
O luar
Ergueu-se no chão de areia.
 
Quão nítidos se fizeram os penteados,
A pedra de diamante, a pedra de safira,
As lantejoulas
Dos finos leques!
 
Insinuações de desejo,
Conversa pujante, idêntica em todas,
Quitação gritada
Aos átrios escuros.
 
Então da pobreza delas se ergueram,
Das guitarras secas, e para os catarros
Esvoaçaram
Através dos muros do palácio.
 
 
 
wallace stevens
harmónio
trad. Jorge fazenda Lourenço
relógio d´água
2006
 



 

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