10 dezembro 2021

josé ángel cilleruelo / a casa

 
 
Verão livros amontoados e sem ordem.
Muitos lidos, os romances de Joaquín Belda
assustarão alguém. Não vão achar diário
nem sublimes escritos com intimidades.
Não há quadros no quarto. Não há outra esperança
além de uma esferográfica que ainda escreva,
um envelope, um selo. E quando procurarem cartas
apenas verão velhos recortes de jornal.
Os cadernos que me ofereceram em Málaga.
Péssimas fotografias de família. Onze
versos casuais de um soneto inexistente.
E um feixe de razões para o esquecimento.
Quando abandonar a casa o último dia
pouca vida mais nela encontrarão.
 
 
 
josé ángel cilleruelo
o dom impuro
antologia
trad. joaquim manuel magalhães
averno
2004




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