I
Fascinados pela possibilidade alimentar que o
extraordinário progresso criou, os povos desenvolvidos, organizados em estados,
governados pela economia, administrada por uns quantos que com ela lucram,
acomodam-se de boca cheia à condição de animal de criação na empresa desses quantos,
cujo negócio é precisamente a classe privilegiada de que fazem parte. E se isto
custa a perceber, tão perversa é esta aliança entre exploração e privilégio, o
pior, está bom de ver, é o mais mau. Quero dizer: a janela que abriste, não
mais poderás fechar. O frio que por ela entra é sem regresso. O homem que nesse
desabrigo se ergue, não há casaco que o vista. Ínfimo diante da força surda do
mundo, é nu que treme, nu que sofre, nu que desesperado grita. E nu, por fim,
que morrerá sem alcançar a razão do seu grito. Lembrando o comentário do meu
vizinho de baixo, proferido a respeito de pessoa alheia, mas curvado à verdade
triste de ele mesmo ser um deles: coitado!
jorge roque
ladrador
averno
2012
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