A minha juventude foi o mar, as ilhas
estrangeiras, a noite, os álcoois
amigos na coberta, as lembranças.
Fugia. E encontrava-me no vaivém
cativo dos dias e dos anos.
Conheço o suor frio nas manhãs
nubladas do outono, no naufrágio
perpétuo do desejo e das palavras.
Mas também aquele outro mais frio
na humildade de um porto, ao chegarem
lentamente os barcos e descobrirem,
ao sol, qual uma chaga na memória,
a pátria quebrada, o coração cansado
de povos milenários que não acabam
nunca de derrotar o implacável
monstro da paixão e da pobreza,
senhor das lendas mais antigas.
Depois este mar – ah, quem poderá esgotá-lo –,
lenta herança de sal, de impuros sonhos,
sempre este mar, o mesmo sempre, o único,
abraçando tudo com suas fábulas
belas de facas, fome e deuses.
Fugia. E encontrava-me sempre em cada porto.
Durante muitos anos viajei
e não saí nunca de mim mesmo.
trípticos espanhóis (2º)
tradução de joaquim manuel magalhães
relógio d´água
2000
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