Que conta a nossa inocência,
que conta a culpa? Tudo é
nu, ninguém escapa. E vem de
onde
a coragem: a pergunta sem resposta,
a dúvida decidida –
clamando muda, escutando surda – que
na desgraça, mesmo morte,
os outros incentiva
e quando sai vencida,
agita
na alma fortaleza? Sagaz
e feliz é aquele que
aceita a mortalidade
e no cativeiro se ergue acima
da sua posição como
o mar face ao abismo, lutando
por ser livre sem poder,
achando, na rendição,
a sua resiliência.
Condigno, pois, é aquele
que forte sente. Até o pássaro
cantando se espevita
e todo se endireita. Embora cativo,
declara em canto firme
ser grosseira a satisfação,
ser tão pura a alegria.
A mortalidade é isto,
a eternidade é isto.
marianne moore
o pangolim e outros poemas
trad. margarida vale de gato
relógio d´água
2018
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