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apesar de Alexandre ter um olho de cada cor
a fotografia tinha o rigor das imagens a preto e branco
a noite desabara sobre os corpos estendidos
a lua surgia como um tentáculo de gelo
apercebíamos mãos voláteis por ente as estátuas
um de nós teimava em esconder-se no interior de uma delas
os répteis temiam a pedra
com seus inalcançáveis corações de quartzo
pulsando
uma cabeça azulada pousa docemente sobre os joelhos
a noite era um estuário de dedos emaranhados
na memória húmida das bocas… alguém contou:
a lebre é capaz de mudar de sexo
em plena correria
eu não acreditei
os olhos vigiavam o exterior do corpo
quando te curvaste para colher um medronho
pelas fendas da janela entrava uma fragrância rubra
e a luz espessa deitava-se
sobre as areias cobertas de lodo
pouco sabíamos acerca do ciúme
deambulávamos à procura de um deus fogoso e terno
ou dalgum poço onde nos debruçarmos
depois tocámo-nos como crianças desajeitadas
enumerámos as terras que dali se avistavam
al berto
cinco fotografias para alexandre
da macedónia
1981
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