09 junho 2017

jaime garcia-maíquez / a lua




É outra vez a lua, a de sempre
a de toda a vida:
a lua dos séculos vindouros,
a lua medieval, a que brindava
com a sombra de Li-po,
a que pisou o homem,
a de prata, a vermelha, a amarela,
a deusa dos ritos ancestrais,
o templo do silêncio,
                                      o espelho da alma.
Também a lua desta mesma noite
diária e cambiante,
ou aquela aterradora superfície
da primeira sombra, quando o sol
deu a luz à lua.

É outra vez a lua
                              e estes versos
são outra vez o mesmo, o obstinado,
frenético e absurdo malefício
de lhe escrever um poema.
– que para ser sincero também não satisfez
o eterno objectivo de invocar essa luz –

No entanto, em muitas tentativas literárias
Que trago às costas, consegui
da lua um triunfo;
                                 fazer dela,
à força de fracassos,
o monumento que jamais um homem
ousara erguer à sua derrota.




jaime garcia-maíquez
tradução de josé colaço barreiros
canal nr. 2
revista de literatura
palha de abrantes
1998



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