para
Tiago Rendelli
O tombo que carrego é um menino,
e não sei o que fazer.
Ele nunca disse uma palavra sequer,
nem quando avistamos a borboleta a
comer o asfalto da R. Padre Anchieta
nem quando deu loucura na vizinha
ou quando seus olhos esbugalharam
e se transformaram em duas jabuticabas
no meio da celebração do primeiro aniversário
da morte do Rio Sagrado
ou mesmo quando vimos e ouvimos o
choro recém-chegado das pulgas no
Mediterrâneo.
Por favor,
não sei o que fazer.
Esta casca tem gosto de serragem
e meus dentes preferem celulose
ou terra. Um doutor, conhecido
da família, implantou quatro cupins
nos lugares dos dentes do juízo.
Como muito melhor agora, mas
dormir é terrível. Certa noite
sonhei com um boitatá gigante
em meu encalço. Quando acordei
me veio o choro, o pesadelo
havia começado.
Peço, por favor,
que só me diga o nome daquele
tarja preta que passa sempre
durante os comerciais entre os
desenhos infantis. Esse menino
que é meu tombo nunca falou
e nem precisa.
victor prado
bastardo
ed. urutau
2016
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