O tempo presente e o tempo passado
Estão
ambos talvez presentes no tempo futuro
E o tempo futuro contido no
tempo passado.
Se todo o tempo é presente
eternamente,
Todo o tempo é irredimível.
O que podia ter sido é uma
abstracção
Que fica em perpétua
possibilidade
Apenas num mundo de
especulação.
O que podia ter sido e o que
foi
Apontam para um só fim, sempre presente.
Passadas ecoam na memória,
Descendo o caminho que não
tomámos
Em direcção à porta que nunca abrimos
Do jardim das rosas. Assim
ecoam
As minhas palavras na tua
mente.
Mas
qual o desígnio,
Turbando o pó de um vaso com
folhas de roseira,
Não sei.
(...)
Aquilo a que chamamos
princípio é muitas vezes o fim
E fazer um fim é fazer um
princípio.
O fim é de onde começámos. E
cada expressão
E cada frase que está certa
(onde cada palavra em sua casa
Ocupa o lugar em que sustenta
as outras,
Sem desconfiança nem
ostentação, a palavra,
Um comércio fácil entre o
velho e o novo,
A palavra comum exacta e sem
vulgaridade,
A palavra formal precisa e não
pedante,
Os cônjuges completos dançando
em conjunto),
Cada expressão e cada frase é
um fim e um princípio,
Cada poema, um epitáfio. E
toda a acção
É um passo para o patíbulo,
para a fogueira, pelas goelas do mar
[abaixo
Ou para uma pedra ilegível: e
é aí que começamos.
Morremos com os que morrem:
Vê, eles partem e nós vamos
com eles.
Nascemos com os mortos:
Vê, eles regressam e
trazem-nos com eles.
O momento da rosa e o momento
do teixo
São de igual duração. Um povo
sem história
Não se redime do tempo, pois a
história é uma teia
De momentos intemporais. Por
isso, enquanto a luz se extingue
Numa tarde de Inverno, numa
capela isolada,
A história é agora e a
Inglaterra.
Com o atrair deste Amor e a
voz desta Vocação
Não cessaremos de explorar
E o fim de toda a nossa
exploração
Será chegar aonde começámos
E conhecer o lugar pela
primeira vez
Pelo portão desconhecido, relembrado,
Quando o último da terra
partiu para descobrir,
É aquilo que era o princípio;
Na nascente do mais longo rio
A voz da cascata oculta
E as crianças na macieira
Não conhecidas porque não
procuradas,
Mas ouvidas, semiouvidas na
quietude
Entre duas ondas do mar.
Depressa agora, aqui, agora,
sempre -
Uma condição de total
simplicidade
(que custa nada menos do que
tudo)
E tudo estará bem e
Toda a espécie de coisas
estará bem
Quando as línguas de chama se
enlaçam
E recolhem ao nó de fogo
coroado
E o fogo e a rosa são um só.
t. s.
eliot
the
four quartets
leituras
poemas do inglês
trad joão ferreira duarte
relógio d'água
1993
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