19 junho 2013

t. s. eliot / the four quartets

   

   O tempo presente e o tempo passado
   Estão ambos talvez presentes no tempo futuro
   E o tempo futuro contido no tempo passado. 
   Se todo o tempo é presente eternamente,
   Todo o tempo é irredimível.
   O que podia ter sido é uma abstracção
   Que fica em perpétua possibilidade
   Apenas num mundo de especulação.
   O que podia ter sido e o que foi
   Apontam  para um só fim, sempre presente.
   Passadas ecoam na memória,
   Descendo o caminho que não tomámos
   Em direcção à porta que nunca abrimos
   Do jardim das rosas. Assim ecoam
   As minhas palavras na tua mente.
                                       Mas qual o desígnio,
   Turbando o pó de um vaso com folhas de roseira,
   Não sei.
   (...)
   Aquilo a que chamamos princípio é muitas vezes o fim
   E fazer um fim é fazer um princípio.
   O fim é de onde começámos. E cada expressão
   E cada frase que está certa (onde cada palavra em sua casa
   Ocupa o lugar em que sustenta as outras,
   Sem desconfiança nem ostentação, a palavra,
   Um comércio fácil entre o velho e o novo,
   A palavra comum exacta e sem vulgaridade,
   A palavra formal precisa e não pedante,
   Os cônjuges completos dançando em conjunto),
   Cada expressão e cada frase é um fim e um princípio,
   Cada poema, um epitáfio. E toda a acção
   É um passo para o patíbulo, para a fogueira, pelas goelas do mar
                                                                                  [abaixo
   Ou para uma pedra ilegível: e é aí que começamos.
    Morremos com os que morrem:
   Vê, eles partem e nós vamos com eles.
   Nascemos com os mortos:
   Vê, eles regressam e trazem-nos com eles.
   O momento da rosa e o momento do teixo
   São de igual duração. Um povo sem história
   Não se redime do tempo, pois a história é uma teia
   De momentos intemporais. Por isso, enquanto a luz se extingue
   Numa tarde de Inverno, numa capela isolada,
   A história é agora e a Inglaterra.

   Com o atrair deste Amor e a voz desta Vocação
   Não cessaremos de explorar
   E o fim de toda a nossa exploração
   Será chegar aonde começámos
   E conhecer o lugar pela primeira vez
   Pelo portão desconhecido, relembrado,
   Quando o último da terra partiu para descobrir,
   É aquilo que era o princípio;
   Na nascente do mais longo rio
   A voz da cascata oculta
   E as crianças na macieira
   Não conhecidas porque não procuradas,
   Mas ouvidas, semiouvidas na quietude
   Entre duas ondas do mar.
   Depressa agora, aqui, agora, sempre -
   Uma condição de total simplicidade
   (que custa nada menos do que tudo)
   E tudo estará bem e
   Toda a espécie de coisas estará bem
   Quando as línguas de chama se enlaçam
   E recolhem ao nó de fogo coroado
   E o fogo e a rosa são um só.



   t. s. eliot
   the four quartets
   leituras poemas do inglês
   trad joão ferreira duarte
   relógio d'água
   1993



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