As casas erguem-se e caem, desmoronam, são aumentadas,
São mudadas, destruídas, restauradas, ou onde estavam
Fica um descampado ou uma fábrica ou um desvio.
De pedra velha a edifício novo, de lenha velha a fogos novos,
De fogos velhos a cinzas e de cinzas à terra
Que é já carne, pele e fezes,
Osso de homem e bicho, haste de trigo e folha.
As casas vivem e morrem: há um tempo para edificar
E um tempo para viver e procriar
E um tempo para o vento quebrar a vidraça solta
E abanar o lambril onde se apressa o rato do campo
E abanar o arrás em farrapos lavrado com uma divisa silenciosa,
Ao longo do descampado e deixa a funda vereda
Encoberta por ramos, escura na tarde,
Onde te encostas a um talude enquanto passa uma carroça,
E a funda vereda insiste no rumo
Da povoação, no calor eléctrico
Hipnotizada. Numa névoa quente a luz sufocante
É absorvida, não refractada, por pedra cinzenta.
As dálias dormem no silêncio vazio.
Espera pela primeira coruja.
Se não te chegares muito, se não te chegares muito,
A meio de uma noite de Verão, podes ouvir a música
Da débil flauta e do pequeno tambor
E vê-los bailar em redor da fogueira
A associação de homem e mulher
Na dança, a significar matrimónio –
Um honroso e conveniente sacramento.
Dois a dois, conjunção necessária
Um e outro de mão dada ou braço dado,
O que é sinal de concórdia. À roda, à roda do fogo,
Ora saltam as labareda ora se juntam círculos,
Rusticamente solenes ou em gargalhada rústica
Erguem os pés pesados dentro de sapatos toscos,
Pés de terra, pés de argila, erguidos em alegria rural
Alegria daqueles há muito debaixo da terra,
Alimento do trigo. A marcar o tempo,
A marcar o ritmo na sua dança
Como nas suas vidas nas estações vivas
O tempo das estações e das constelações
O tempo da ordenha e o tempo da colheita
O tempo do acasalamento de homem e mulher
E o dos bichos. Pés que se erguem e baixam.
Comida e bebida. Esterco e morte.
Se prepara para o calor e o silêncio. No mar o vento da
madrugada
Encrespa-se e desliza. Eu estou aqui
Ou ali, ou algures. No meu começo.
quatro quartetos
trad. gualter cunha
relógio d`água
2004