(...)
Do fundo do coração brotam-me
lágrimas
Se penso, Amor, na minha amada;
Não passa duma criança, que
encontrei
Pálida, imaculada, no fundo dum
bordel,
É uma criança, loura, risonha e
triste,
Não sorri nem chora;
Mas no fundo dos seus olhos,
quando vos deixa beber
Treme um delicado lírio de prata,
a flor do poeta.
É meiga e calada, sem nada a
apontar,
Estremece à vossa aproximação;
Mas quando eu volto, daqui, dali,
da festa,
Ela dá um passo, depois fecha os
olhos -
e dá um passo.
Porque ela é o meu amor, e as
outras mulheres
Só têm vestidos de ouro sobre
grandes corpos
de chamas,
A minha pobre amiga está tão
desamparada
Está toda nua, não tem corpo - é
demasiado pobre.
É uma flor cândida, delgada,
A flor do poeta, um pobre lírio
de prata,
Muito frio, muito só, e já tão
seco
Que as lágrimas brotam se penso
no seu coração.
blaise cendrars
prosa do transiberiano e da joaninha de frança.
poesia em viagem
trad. liberto cruz
assírio & alvim
1974
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