25 novembro 2011

jaime rocha / zona de caça

  


24.


Era um encontro impossível. Deitados à noite
sobre uma colcha apenas conseguiam tocar-se
com o choro, mas o cavaleiro não conhecia esse
segredo, nem via que o seu beijo se assemelhava a
uma morte definitiva. Porque tudo nele era matéria
flutuante, não suportava a felicidade. Uma luz
que não morria saía dela, como um barco que
demora séculos a desfazer-se abandonado num
porto, já devorado pelas algas. Por isso, o homem
vestia de novo a armadura e esperava até que,
desaparecido o anjo, solta para a caça, ela voltasse
a ser presa sem covil, à mercê da sua lança, onde
por suas próprias mãos havia colocado uma insígnia.




  


jaime rocha
zona de caça
relógio d´água
2002





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