No inverno os gritos dos semáforos caem ao mar
crivados de vento e de crucificação
Numa gota do meu sangue pode afundar-se um
barco
do meu sangue caindo sobre o peito
de uma marquesa Luís XV de espuma
Esta paisagem gela menos ao espelho
do que sobre as unhas dos mortos
que hão-de ressuscitar com os dedos em flor
flor de agonia extinta e de salvação
Dividida como um vale de Josafat
espera-a a risca do meu cabelo
enquanto Cristo condena
a virgem Maria com um penteador branco
dará um naco de pão aos condenados
e porá um pássaro de carícias
na testa dos que se salvarem
luis buñuel
poemas
trad. de mário cesariny
arcadia
1977
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