04 julho 2011

gil t. sousa / é preciso dizer

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é preciso dizer
que não há mais nada a celebrar
nem os homens
nem as ideias
nem o tempo
 
essa fenda
que te atravessava a vida
esse rasgão generoso
que te aproximava os céus
fechou-se
 
estás perante o escuro silêncio
das coisas mortas
 
não abandones os espelhos
 
ainda que quebrados
eles são o palácio derradeiro
o último jardim
a gota impossível
de secar
 
guarda aí a semente
as palavras
as vozes
as imagens
 
porque o amor
é um minucioso trabalho do tempo
em direcção à morte
 
 


gil t. sousa
falso lugar
2004
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3 comentários:

Chellot disse...

Um minucioso trabalho que mesmo sendo bem constituído um dia há de perecer.
Gostei muito. beijos doces.

Alfredo Rangel disse...

Ah, Gil. Quanto a aprender contigo, com tua poesia, com teu escrever. Obrigado por tudo. E parabéns. Novamente...

fernanda disse...

Que subtil e terna a tua maneira de escrever.