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Cada vez são mais os que crêem menos
Nas coisas que preencheram as nossas vidas,
Os mais altos, os incontestáveis valores de Platão ou Goethe,
O verbo, a pomba sobre a arca da História,
A sobrevivência da obra, a descendência e as heranças.
Nem por isso caem do céu do neófito
Na ciência que expõe máquinas na lua;Na verdade, tanto faz que o doutor Barnard
Faça transplantes do coração
Era preferível mil vezes que a felicidade de cada um
Fosse o exacto, o necessário reflexo da vida
Até que o coração insubstituível pudesse dizer simplesmente basta.
Cada vez são mais os que crêem menos
Na utilização do humanismoPara o nirvana estereofónico
De mandarins e estetas.
Sem que isto queira significar
Que quando houver um instante de inspiraçãoNão se leia Rilke, Verlaine ou Platão,
Ou se escute os nítidos clarins,
Ou se vislumbre os trémulos anjosDe Angélico.
julio cortázar
trad. jorge henrique bastosrosa do mundo
2001 poemas para o futuro
assírio & alvim
2001
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