22 julho 2008

salsugem








há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu....como seriam felizes as mulheres
à beira-mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas esperando o mar
e a longitude do amor embarcado.....

....por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite...
....os dias lentíssimos....sem ninguém

e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta.... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci.... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão....

(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me
uma pérola no coração. mas estou só, muito só,
não tenho a quem a deixar.)

.... um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala á minha porta....
.... inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas de que alguma vez me visite
a felicidade.






al berto
salsugem
contexto
1984





2 comentários:

Joana Roque Lino disse...

o seu blogue é excepcional. boa semana.

Chellot disse...

Algo em sua poesia lembrou-me de mim mesma. Uma vida inteira esperando por algo que nem sabia o que era e que de mais a mais não veio. Triste e lindo.

Beijos de fadas.