frequente inverno mensurável
uma mulher equivocada media a palmo o inverno. meses sobre meses redondos lhe surgiam como o burburinho lúcido da viagem. fazia aqueles estalidos frágeis como se lhe coubesse no dedo a rotação do planeta devastado o ruído da morte da ausência. empilhava as mãos alternadamente em tom de súbita precipitação e depois sorria. sorria como se estivesse a sentir-nos alheios distantes cheios dela preenchidos até à raiz do cabelo quando ele caía. e agora a vida corria a todo o gás a saraiva atingia a máxima velocidade a mulher escondida num manto branco e o baton escarlate na seiva dos homens do inverno ao largo diluia-se. e a sinfonia da sua metamorfose do estalido dos seus dedos da morte equivocada regurgitava. as margens as correntes cavalgavam a ciranda até perder de vista a vista até perder o norte ao sul. este lugar de névoa o aparecimento do pequeno raio a têmpora a salgar durante a viagem petrificara as águas o odor limítrofe do frio as frieiras as gretas das mãos que a palmo encontravam o inverno. a marca deste inverno deste imenso manto desesperava nos reflexos breves das janelas inclusas. a reclusão desta mulher permitia-lhe dedilhar o medo lembrar profundamente a raiz do infinito. há um mistério de pureza na crença deste equívoco jaz inerte o almiscarado do inverno por esses dedos. apetece-me uma laranja de inverno um tomo dedilhado por uma mulher equivocada. apetece-lhe o inverno e a mim intuído o tempo renascida a manhã o inverno todo.
nuno travanca
uma mulher equivocada media a palmo o inverno. meses sobre meses redondos lhe surgiam como o burburinho lúcido da viagem. fazia aqueles estalidos frágeis como se lhe coubesse no dedo a rotação do planeta devastado o ruído da morte da ausência. empilhava as mãos alternadamente em tom de súbita precipitação e depois sorria. sorria como se estivesse a sentir-nos alheios distantes cheios dela preenchidos até à raiz do cabelo quando ele caía. e agora a vida corria a todo o gás a saraiva atingia a máxima velocidade a mulher escondida num manto branco e o baton escarlate na seiva dos homens do inverno ao largo diluia-se. e a sinfonia da sua metamorfose do estalido dos seus dedos da morte equivocada regurgitava. as margens as correntes cavalgavam a ciranda até perder de vista a vista até perder o norte ao sul. este lugar de névoa o aparecimento do pequeno raio a têmpora a salgar durante a viagem petrificara as águas o odor limítrofe do frio as frieiras as gretas das mãos que a palmo encontravam o inverno. a marca deste inverno deste imenso manto desesperava nos reflexos breves das janelas inclusas. a reclusão desta mulher permitia-lhe dedilhar o medo lembrar profundamente a raiz do infinito. há um mistério de pureza na crença deste equívoco jaz inerte o almiscarado do inverno por esses dedos. apetece-me uma laranja de inverno um tomo dedilhado por uma mulher equivocada. apetece-lhe o inverno e a mim intuído o tempo renascida a manhã o inverno todo.
nuno travanca
4 comentários:
Que magnífico, Nuno!
Espero ler mais textos teus.
neblinazul
encontrei-me aqui, embora não tenha percebido nada.
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qual a novidade? nunca me percebi mas sempre me encontrei em todos os invernos...
este também...
sair do anonimato.
um perigo tão presente como a ausência dele.
no fundo, quando escrevi o texto, mais do que para alguém se encontrar, pretendi que houvesse um reencontro.
nada a ver comigo. nada a ver comigo.
eu não sou parte integrante das leituras. sou, quando muito, um prisioneiro do contraditório, um estigma de mim próprio no meio dos outros.
às vezes prefiro pensar que não sou nada. pretendo-o. que não tomo valium nem banho com lux.
um pouco longo, com apreço pelas palmas e também pelos assobios e tomates arremessados. mas não pretendo ser fiel depositário das palavras, para as vender porta a porta.
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