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03 maio 2025

zetho cunha gonçalves / pelo meu nome

 
 
 
Escavo a esta mão os ventos – da onça,
sustentam a noite: quem contraceno em gesto,
e os seus olhos. Se dou um passo
tropeço noutro passo – simétrico, tropeço
na flecha. O dorso é todo o horizonte,
a sua escultura movediça.
 
Eu trazia o fogo na cabeça, era um pássaro.
O canto das águas seria a minha voz – a pedra,
Terra
de outra carne,
e osso –
não me houvessem roubado o fogo, não me houvessem
justificado em lenda, pelo meu nome.
 
 
 
zetho cunha gonçalves
o testamento do mundo
poemas reunidos 1979-2021
maldoror
2021
 



25 julho 2023

zetho cunha gonçalves / no meu ombro

 
 
Repousa
no meu ombro
a tua insónia:
 
– A noite
é o grande poema.
 
E vai
até de madrugada.
 
 
 
zetho cunha gonçalves
noite vertical
poemas reunidos 1979-2021
maldoror
2021




 

08 junho 2022

zetho cunha gonçalves / fragmentos da terra

 



 

                                          Ao Herberto Helder
                                          e ao Luís Carlos Patraquim

 
 
 
Os meus mortos deram-me versos – um rio
acampado na memória.
(Os pássaros tomam o ar do seu canto – vento,
vento espantado.)
          E se troveja,
Cobrem-se de colchas e de toalhas os espelhos
da casa;
colocam-se três montículos de cinza fresca
nos cantos interiores das portas,
e um fio de sorte, em sal grosso, ao longo do peitoril
das janelas voltadas a nascente – que se fecham,
flor do mato,
sem luz eléctrica nem água canalizada;
sem para-raios.
          Sem para-raios,
desmembram os relâmpagos, faísca
sobre faísca,
as árvores antigas da terra – que rodeiam,
estremecem – amuleto e feitiço,
como se Deus se soletrasse
na pedra inaugural do meu rosto.
 
 
 
zetho cunha gonçalves
noite vertical
poemas reunidos 1979-2021
maldoror
2021