luar, acordo dentro dos teus sonhos.
E se assim te invado, sem desculpa,
nem pudor, a intimidade violada,
é para dizer-te num sussurro que
sou bem real, não essa imagem
gasta de boneco alado, viajando
em imperceptíveis caudas de cometas.
Com passos de veludo, para não ser grande
o sobressalto, percorro em câmara lenta
os corredores da tua alma adormecida,
plantando a semente de promessas adiadas.
De tudo me sirvo: deixo postais de viagem,
triviais fotografias e até ridículas cartas de amor.
Em vão procuro convencer-te de que existo,
à margem silenciosa da história dos humanos.
Terminada, porém, a noctívaga expedição,
a verdade é que tudo fica na mesma:
e já que assim te esqueces de mim,
apressar-me-ei a apagar sem remorsos
os vestígios da breve passagem sonâmbula.
Quando, esquecido, regressares das estrelas
mais tardias, reconhecerás, afinal, que terei
sido sempre eu a fiel morada que buscavas.
Então, e só então, perdurarei eu, mortal e
imperfeito, no rasto de cinza que deixares.
voo rasante
antologia de poesia contemporânea
mariposa azual
2015