VII
Ai! Tenho pressa. Vou andando
Furo tabocas
– Onde estou?
Árvores de galhos idiotas me espiam
Águas defuntas estão esperando a hora de apodrecer
Escorrego por um labirinto
com árvores prenhas sentadas no escuro
Raízes com fome mordem o chão
Carobas sujas levantam os vestidos
como cachos de lama pingando
Açaís pernaltas
movem as folhas lentas no ar pesado
como pernas de aranha espetadas num caule
Miritis abrem os grandes leques vagarosos
Sapo sozinho chama chuva
No fundo
uma lâmina rápida risca o mato
Trovãozinho roncou: já vou
Vem de longe
um trovão de voz grossa resmungando
abre um pedaço do céu
Desabam paredões estrondando no escuro
Arvorezinhas sonham tempestades…
A sombra vai comendo devagarzinho os horizontes inchados
raul bopp
cobra norato
editora josé olympio
rio de janeiro, 2016