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09 outubro 2019

raul bopp / cobra norato



VII

Ai! Tenho pressa. Vou andando
Furo tabocas
– Onde estou?

Árvores de galhos idiotas me espiam
Águas defuntas estão esperando a hora de apodrecer

Escorrego por um labirinto
com árvores prenhas sentadas no escuro
Raízes com fome mordem o chão

Carobas sujas levantam os vestidos
como cachos de lama pingando

Açaís pernaltas
movem as folhas lentas no ar pesado
como pernas de aranha espetadas num caule

Miritis abrem os grandes leques vagarosos

Sapo sozinho chama chuva

No fundo
uma lâmina rápida risca o mato
Trovãozinho roncou: já vou

Vem de longe
um trovão de voz grossa resmungando
abre um pedaço do céu
Desabam paredões estrondando no escuro
Arvorezinhas sonham tempestades…

A sombra vai comendo devagarzinho os horizontes inchados



raul bopp
cobra norato
editora josé olympio
rio de janeiro, 2016