Sou este
migalho de aldrabice
que vive nas
árvores ocas
(tolhido
para não afugentar os pintassilgos)
sempre com
os pés para a noite como se a luz me denunciasse:
atentem, ali
vai a versão pardaleco do homem possível
Entretenho-me
a fazer fogueiras com as mãos
apesar de
encarquilhadas de tanto escarafunchar os olhos
o segredo é
não esbanjar as pinhas
é tudo o que
sei sobre calor
Sou esta
batota que escorraça em leque
e só está
bem na cama
com o
focinho enterrado na própria máscara
de gesso de
viúvo de colisão entre comboios
favoreço o
musgo
e sou
inseparável desta colecção de navalhas imaginárias
não acredito
em meias
só em música
desgrenhada
Deixo
palitos por todo o lado
como um
gatuno morto por ser apanhado
cheio de
ouro a escorrer-lhe dos dentes
o meu
espelho é o vácuo
até te
mostrava a barriga não fossem as marcas dos rodados
há uma
toupeira no meu estandarte
e uma mulher
invisível de bonita
por quem
espero
pedro de queirós tavares
se tens fósforos
fresca / poetria
2023