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31 janeiro 2022

miguel cardoso / se desci a poços

 
 
Se desci a poços
 
foi por não saber
fazer palas sobre os olhos
nem outros truques de visionário e abat-jour
 
Porque largar a infância
era ir na direcção inversa
dos túneis vastos que me deixara na vista
 
Era arranque em bruto para o alarme
das idades que descem
 
cruzando-me com rimbaud em sentido contrário
deixando cair lâminas de barbear pelos bordos
e levando às cavalitas poetas gastos
nortes de áfrica de hugo pratt
a cores tatuados nas costas da mão
para o caso de se cansar de cadernos e delúgios
 
Se subi a postes
foi pela mesma razão exacta
 
porque o chão era extenso
 
e que viesse depois a gravidade
dizer-me onde estava que ano era
 
e onde aplicar as ligaduras
 
 
 
miguel cardoso
fruta feia
douda correria
2014




23 maio 2021

miguel cardoso / aqui jaz o velho mundo

 
 
Aqui jaz o velho mundo
como cabelo incuspível sob a língua
 
e perto a curva que porá fim à vista
 
e no entanto não é tempo
para lamentações dizem-me
 
que também o sussurro levanta
a poeira atiça os cantos dos mosaicos
 
a terra em longo pousio a tona da água
algumas flores delicadas altas e domésticas
 
e senão dar à manivela da voz
e por uma vez dar pela fadiga
dos tendões mais subtis
 
e rirmo-nos de um dia morno
em casa dar para tantos fins de verso
 
e em seguida janta-se
 
 
 
miguel cardoso
fruta feia
douda correria
2014