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21 novembro 2021

maria amélia neto / meditação sobre sísifo

 
 
Vi-o de novo,
Pela alquimia ancestral da solidão.
De novo se afundou no tempo
A pergunta desde sempre murmurada,
E o fogo crepitou suavemente
E queimou, uma a uma,
As horas da noite.
 
Trazemos na retina a eternidade.
Da aurora
Conhecemos os sinos,
Os planetas adormecidos,
O rio coberto de junquilhos mortos.
Do resto do tempo
Conhecemos o orgulho,
A lucidez desumana,
A tela por pintar,
E o ruído subtil do medo.
 
Aprenderemos a crescer ao lado das roseiras?
A saciar de sol a demência do vazio?
A destruir as velhas raízes?
 
Fluido, fluido é o cerco da solidão.
 
 

maria amélia neto
equinócio
1962

 




24 julho 2014

maria amélia neto / o medo


Surgiu
Por detrás
Da nuvem escura
Que tapou a lua.
Escorregou
Sobre a planície,
Negro,
Envolto
Em longas chamas.
Era meu.
Pertencia-me.
Era o medo


maria amélia neto
o vento e a sombra
1960