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03 maio 2015

hugh macdiarmid / vejam! nasceu uma criança



Pensei numa casa em que as pedras pareciam de súbito mudadas,
Tornando-se prenhes de esperança, uma esperança tão sólida como elas,
E a atmosfera, quente desse amoroso calor,
O calor da ternura e de almas que anseiam, a sorridente ansiedade
Que rege uma casa onde uma criança estás prestes a nascer.
As paredes estavam cheias de ouvidos. Todos falavam em voz baixa.
Só a mãe tinha o direito de gemer ou de queixar-se.
Então pensei no mundo inteiro. Quem cuida das suas dores
E procura abraçá-las em igual carinho e paz?
O que há é o fragor monstruoso dos estéreis, que em nada contribuem
Para o grande fim em vista, e o futuro tacteia,
Um mau parto, não como a criança nessa grácil casa,
Ouvida na quietude a virar-se no útero da mãe,
Feita já um espírito estratégico, em busca do melhor modo
De se apresentar à vida, e por fim, resoluto,
Saltando para a história a tremer como um peixe,
Caindo no mundo como um fruto maduro em tempo certo. ─
Mas onde está o Passado, a quem o Tempo, por entre lágrimas sorrindo
Ao filho recém-nascido, se dirige e diz: “amo-te”?



hugh macdiarmid
leituras, poemas do inglês
tradução de joão ferreira duarte
relógio de água
1993