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16 julho 2020

fabio weintraub / hotel




Voltei depois de quinze anos
Queria rever meus pais
assentar praça
arrumar marido

Arrumei um diretor
que afaguei por uma década
e ele saiu à francesa
(por um triz não meti
Uma bala na cabeça)

Já tentei me proteger
Num colar carregava
os ossos do meu avô
e uma safira em meus dentes
(o colar acabei dando, a pedra
no hospital me roubaram)

Nasci girino:
operado antes de um ano
deprimido aos cinco
dopado aos doze

Por ser gago e gay
sempre me humilharam
Tia Rana me protegia
Morreu cedo porque me amava

Não posso comer em público
mastigo como quem defeca
A conta é mamãe quem paga

Barriga de mãe
é o hotel mais caro do mundo


fabio weintraub
telhados de vidro n.º 19
maio de 2014
averno
2014