“Nenhum homem é uma ilha.”
(Lay Sermons, John Donne)
Cada homem é uma ilha,
Ou, devia ser,
Ou, admite que sim
Demasiado ansioso
Quando os olhos se fecham
E os dias futuros
Se apresentam como memórias,
Como pó
De um trilho desértico
Escurecido pela lua estéril.
O mito dos continentes
É um recurso
Que a poesia usa muitas vezes
Para bem dizer o amor.
Os continentes são ilhas sem lei
Unidas por errantes promessas de amor.
Imagine-se
Que o mar se desvanece.
Imagine-se
Que uma ilha abandonada
Está bordada
Com filamentos de palavras coloridas
A insensibilidade da poesia,
A frieza do amor
Que pode apenas pensar
Nos seus próprios prazeres,
envolve a orla gritante
De uma série de ilhas.
Os continentes dormem indolentes.
As ilhas
Têm serpentes de pedra no seu cabelo fantasma
E olhos de Gorgon
Que se fitam profundamente
Cada homem é uma ilha.
Tapa os olhos, Amor
Quando navegares nestas costas,
Ou, será que não tens medo
Por teres já no coração
A mesma pedra?
Cada homem é uma ilha:
Uma ilha
Esperando
Pelo alívio de ser abandonada.
debasish lahiri
(Índia, trad. de isilda ribeiro a partir da versão inglesa)
nervo/2
colectivo de poesia
janeiro/abril 2018