03 junho 2021

jorge velhote / calculada melancolia

 
 
De um e do outro tudo sabíamos. O mar,
o rio, se cruzando pelas nossas largas calças,
os brinquedos de lata golpeando a curiosidade,
o primeiro sabor do sangue.
Alguns antecedentes, limalhas de sol, silenciosas ferrugens
que, entre mesas e chávenas de café,
se permutam.
 
Dessa espécie de som, dessa perdida água,
vivíamos os dias, lendo livros, olhando montras,
as belíssimas mulheres que nos cotejavam o olhar, manobrando
ancas, os metálicos lábios como relógios,
detalhes.
 
Sem uma única palavra, calculada melancolia,
comovidos, os corações cambiávamos,
triunfantes.
 
 
 
jorge velhote
hífen 2 abr / set 88
cadernos semestrais de poesia
1988





 

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