De repente, cada um de nós vê um território banhado
de mar agitado e frio, com manhãs verdes de nevoeiro e com os campos onde os
nomes das mais pequenas ervas nos fazem humedecer os olhos
*
Evidentemente que Portugal é Europa. Mas uma Europa
de refugiados, um lugar mantido em independência para servir de exílio a
vencidos e enganados. Uma Suíça doutro padrão, onde nada se agita e tudo se
murmura. Portugal foi mundo de mercadores, pátria para imigrados, delícia dos
tímidos e calamidade para santos e perversos. Para o meio termo é boa casa, e
não o digo em tom pejorativo, muito pelo contrário. E Alijó, no tempo das
cerejas, tem a medida de Wall Street.
*
Os Portugueses não são pontuais nem respeitadores
das praxes. Não têm espírito de corpo, em suma, e aproveitam todas as ocasiões
para o demonstrar. Eu creio que Benjamin Constant nunca poderia vislumbrar nos
Portugueses algo que se parecesse com a alquimia da perseguição. Pois a
unanimidade não lhes parece necessária nas opiniões; a oposição é vista como
uma mania curável. Tudo a inteligência remedeia, e por isso a submissão é
absolutamente fora de causa.
*
Quando nomeamos Espanha e Portugal, vemos o palco
da História e nós como protagonistas. Isto diminui a nossa iniciativa, ao mesmo
tempo que enriquece o nosso sentido de nação.
Eu creio que foi Dostoievski quem disse que para
fazer um país é preciso a convicção de que ele, país, é o melhor do mundo;
doutro modo, não se passa de constituir apenas um material etnográfico. Nós,
Portugueses, sempre desenvolvemos uma vaidade expansiva frente ao orgulho
caudaloso e sério do povo da Espanha. Às vezes até somos modestos por fora para
melhor gozar o nosso vinculado prazer de superioridade. E quando nos louvam a
humildade, não pressentem que ela é mais desdém do que caturra virtude de
confessionário.
agustina
bessa-luís
dicionário
imperfeito
guimarães editores
2008
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