24 setembro 2018

rené char / violências




Acendia-se a lanterna, imediatamente cercada por um pátio prisional. Os pescadores de enguias iam lá escavar ervas raras com o seu ferro, na esperança de delas extraírem qualquer coisa para cevar as suas linhas. Toda a quadrilha das escumas tinha aí o seu refúgio ao abrigo da necessidade. E todos os dias se repetiam as mesmas manobras de que eu era a vítima e a testemunha anónima. Optei pela obscuridade e pela reclusão.

Estrela do destino. Entreabro a porta do jardim dos mortos. As flores servis retraem-se. Companheiras do homem. Ouvidos do Criador.

         
rené char
furor e mistério
o ante-mundo
trad. margarida vale de gato
relógio d’ água
2000








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