01 setembro 2016

sharon olds / de volta a casa depois das férias



O carro rodou para a entrada ao ocaso e parou.
A mulher saiu sob as enormes árvores pretas
e desceu ao jardim e sentiu que havia lá alguém,
alguém com raiva. As árvores estavam encorpadas de negrume
e os botões desembainhavam as facas.

Deixou-se ficar de fora do seu jardim
e viu como os caules retorciam os músculos
e todo aquele terreno parecia uma campa
de onde alguém lutava por sair.

                                                        De repente
pressentiu uma grande sombra erguendo-se,
lançando-se a correr – ela levou a mão ao pescoço
branca como uma raiz.

                                        Estava, portanto, em casa.
Aquele era o seu lugar, o único de entre todos
onde tinha medo de andar, onde alguém chegara
sempre primeiro, e, contra ela, manteria o posto
a todo o custo.


sharon olds
satanás diz
trad, margarida vale de gato
antígona
2004




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