Coimbra, 12
de Julho de 1957 – Talvez eu me engane a meu respeito e a respeito dos
mais. Mas em matéria de revelação da intimidade de cada um, ainda vou pelo
diálogo. As correspondências, pelo simples facto de uma certa opção formal a
que a escrita obriga sempre, são fintas petrificadas. Os diários e as
confissões, pouco mais ou menos o mesmo. Ora, numa boa conversa a dois, o
prestigitador tem ao pé uma atenção a observá-lo. E como a gente não fala só
com palavras – porque, desde os gestos à cor da pele, tudo em nós é expressão –,
nessa altura, sim, o sujeito diz. Diz o
que quer, e o que não quer.
miguel torga
diário VIII
1959
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