I
Um livro crepita
um gémeo pendura-se
no seu fogo
(aparato lírico do fogo
queimando o labirinto)
II
Escorregam as linhas descendentes
de um poeta.
E as chuvas caminham noutra direcção
para uma página menos escrita.
III
Compare-se o que se diz
com o silêncio que circunda a boca
de um ser desconhecido.
Flecha primeira a chegar
aos confins da terra.
Um dispositivo de silêncio
nos pontos cardiais
desta página
instaura a maravilha
por alguns séculos
IV
Estremeço
No coração.
As letras vêm de lá
e da mão.
Padeço:
o eco — perco-o —
sai da garganta
e da distância.
Palavra é o que lembo
ou o que meço?
V
Este é o tempo todo que me falta
e nem é muito nem pouco.
De mim direi o que deixarem
as falas que flutuam entre mim.
Palavras não se repetem
nem o verso sai do sítio em si
Repousa muito aí, até esquecer.
A morada é nesta confluência
do que digo e aquilo que farei
depois e antes de não saber
falar
luiza neto jorge
os sítios sitiados
poesia
assírio & alvim
1993
Sem comentários:
Enviar um comentário