as roupas, o silêncio
a memória dos outros, estalada e suja, nesses olhos
de conhaque, nossas mãos que seguram um copo com a finura própria do vidro, desembainhando
os dedos das mangas negras, desembainhando o corpo (esse tecido), resistindo à
agonia, ao inquérito, ao tórax da noite; a memória dos outros, essa fugidia,
essa que mora na língua – ah!; essa memória que me conta por onde estivestes –
e eu não estive; por onde as ruas foram uma vez magnéticas, por onde os ténis (esses,
brancos) foram despejados como areia; a memória de quando, em Janeiro, na lapa,
andamos feito dois guarda-chuvas ( eu não andei, mas caí no centro de sua voz)
essa memória inquieta, justa, que estala as unhas na mesa, a memória. a memória.
– bruna, no último século, te juro, seremos sós, cada qual com sua roupa e seu
silêncio.
thyago marão villela
euOnça
volume_dois
editora medita
2014
Sem comentários:
Enviar um comentário