Ci est d’amer volonté pure
Roman de la Rose
Agora vai ser assim: nunca mais
te verei.
Este facto simples, que todos me
dizem ser simples, trivial,
e humano, como um destino
orgânico e sensato,
Fica em mim como um muro imóvel,
um aspecto esquecido
e altivo de todas as coisas, de
todas as palavras.
Sempre nos separaram as
circunstâncias, e a essência
mesma dos dias, quando entre a
relva e a copa das árvores
me esquecia de pensar, e o ar
passava
por mim antes de erguer os caules
verdes e alimentar
a vida sem imagens da paisagem.
Marcávamos férias
em meses diferentes. O fim do
ano, a páscoa, calhavam sempre
em outros dias. Tesouras surdas
rompiam o cordão dos telefones, e
por engano
urgentes cartas atravessavam o
planeta, apareciam
anos depois no arquivo municipal.
E mais: a minha idade,
a tua, não poderiam nunca
encontrar-se no mundo.
[...]
antónio franco alexandre
uma fábula
assírio & alvim
2001
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