Irmãos, não porque padeça de loucura precoce,
Mas sempre vos direi que haveis de procurar
alguns profetas.
Nos buracos do metro, nas locas das sentinas
e também no olhar, quantas vezes trémulo,
dessas crianças que riem no meio
dos charcos de óleo.
O pouco que dirão vos servirá.
O muito, por pouco e escasso, deixai
para outros dias.
Porque outros dias virão, esses, sim,
definitivos.
Não saberão aqueles os pesos da matéria.
Dedilham as guitarras esses povos de Deus
e de que servirá o fogo, o rei, o leão, a águia,
o número sete e as pedras do Sepulcro
àqueles que vão sonâmbulos, imagem sobre imagem,
pelo dédalo das ruas a caminho da Gruta?
Irmãos eclesiastas, deixai de ir a vós
as bibliotecas, as falas das paredes.
Deixai para os artistas a hora de saída
das marquesas, esse minuto infinito
de levar à têmpora as armas fatais.
Essa delicada estufa em que fermenta
a mais rasteira planta: a das paixões.
Paredes são retratos. São sa1as para serem vistas.
O precioso Vieira ergueu extensas paredes
vítreas. Cortejava o ouvido medroso
e fidalgo, julgando deste jeito,
trazer-lhes a alma à arreata,
que trazia oculta sobre as vestes.
Politico Vieira. De Deus Nosso Senhor
e Rei. E de outros nomes.
Profetas loucos, roucos ou sem fala.
Como Chet Baker, Elisa a rapadeira.
Procurai neles o inverso da ciência,
o inferno do céu.
Procurai quem destrua estas paredes
que gritam tanta engenharia.
Buscai quem as atravesse mudo como um anjo
com fogo nos vestidos
e nas mãos todo o licor cioso
do silêncio.
Chorai, matai e sem uma pa1avra
Fazei com que Deus cresça.
armando da silva carvalho
poema do êxtase
poezz
almedina
2004
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