25 dezembro 2011

s. kierkegaard / que os outros lamentem…


Que os outros lamentem que os tempos sejam maus; eu lamento que sejam miseráveis ─ pois são desprovidos de paixão. Os pensamentos dos homens são ténues e frágeis como rendas, eles próprios são dignos de pena, como rendeiras. Os pensamentos do seu coração são mesquinhos demais para serem pecaminosos. Talvez para um verme pudesse ser considerado pecado alimentar tais pensamentos ─ não para um homem, que foi feito à imagem de Deus. Os seus prazeres são comedidos e moles; as suas paixões, sonolentas. Cumprem os seus deveres, essas almas de merceeiros; permitem-se, porém como os Judeus, cortar um pequeno pedaço na moeda; pensam que, por mais que Nosso Senhor tenha a contabilidade bem organizada, uma pessoa consegue bem escapar, aldrabando-o um pouco. Deviam ter vergonha! Por isso, a minha alma volta-se sempre outra vez para o Antigo Testamento e para Shakespeare. Aí, sente-se mesmo que são homens que falam: aí, odeia-se; aí, ama-se, mata-se o inimigo, amaldiçoa-se a sua descendência por todas as gerações; aí, peca-se.




s. kierkegaard
diapsalmata
assírio & alvim
2011


1 comentário:

Anónimo disse...

Excelente reflexão para o dia de Natal. Kierkegaard é um gênio, e eu sempre leio a sua obra em busca de iluminação e compreensão para a vida que tenho.