09 agosto 2010

ângela marques / circulares





VIII

a casa que sonhei era branca, muito rente ao chão,
e as janelas de madeira amparavam-me os sonhos,
traziam histórias estranhas e levavam-me pelo mundo:
corria de lyon a paris, passava por veneza
para lembrar aquele degrau onde me sentei feliz
e voltava à mesa com a toalha posta de linho
uma malga de leite
um naco de pão
o teu sorriso quente
a festa começava quando as mãos se encontravam
e partiam a descobrir os recantos de nós
a viagem era louca até ao chão
os corpos rolavam envolvidos em água
até que o teu cheiro se vertia pelo soalho

era tudo tão simples na casa que sonhei!



Porto, 5-4-85





ângela marquescircularesnova renascença
abril/junho
primavera de 1985






4 comentários:

Ana Carolina disse...

Noooossa, que lindo.. Me deu saudade da cidade onde eu morava uando era pequena ^^

José Carlos Brandão disse...

A simplicidade é o ideal. Por que afogarmo-nos nas complexidades do mundo moderno? Somos do mundo? Podemos viver como se não fôssemos - sem renegar esse mundo, mas sem sermos sufocados por ele.
Poema muito bom.
Grande abraço.

Alfredo Rangel disse...

Lindíssimo...
Seguindo as pegadas da Ana Carolina, acima, "deu saudades do amor que nunca tive..."

fernanda disse...

Que lindo...uma aguarela...