14 janeiro 2010

daniel faria / ando um pouco acima do chão









Ando um pouco acima do chão
Nesse lugar onde costumam ser atingidos
Os pássaros
Um pouco acima dos pássaros
No lugar onde costumam inclinar-se
Para o voo

Tenho medo do peso morto
Porque é um ninho desfeito

Estou ligeiramente acima do que morre
Nessa encosta onde a palavra é como pão
Um pouco na palma da mão que divide
E não separo como o silêncio em meio do que escrevo

Ando ligeiro acima do que digo
E verto o sangue para dentro das palavras
Ando um pouco acima da transfusão do poema

Ando humildemente nos arredores do verbo
Passageiro num degrau invisível sobre a terra
Nesse lugar das árvores com fruto e das árvores
No meio dos incêndios
Estou um pouco no interior do que arde
Apagando-me devagar e tendo sede
Porque ando acima da força a saciar quem vive
E esmago o coração para o que desce sobre mim
E bebe









daniel faria
poesia
explicação das árvores e de outros animais

quasi
2003





3 comentários:

josé luís disse...

poema algo acima dos nossos...

(imortal daniel faria)

Memória transparente disse...

Um poema imortal, assim como a poesia do Daniel.

Jonathan disse...

"Estou um pouco no interior do que arde" Não há o q dizer sobre isso!!