03 maio 2009

josé miguel silva / os melhores anos da minha vida






Os melhores anos da minha vida
passaram comigo ausente, passaram
numa corrente subterrânea.
Não me apercebi de nada, distraído
com a queda das folhas,
a densa mistura de pão e desordem.

Estava tudo em aberto, mas eu não sabia
senão de pequenas querelas,
e tímidos passos à toa, sempre à espera
de não ter futuro. Sentado, como um pobre,
sobre o poço de petróleo,
eu media com tesouras as semanas,
misturava-me com livros, ansiava
pelo dia em que deixasse de sangrar.

Os melhores anos da minha vida troquei-os
por isto.






josé miguel silva
vista para um pátio seguido de desordem
relógio d'água
2003.






9 comentários:

Anónimo disse...

:D

Isabel

Chellot disse...

Os melhores momentos as vezes são trocados por bagatelas sem valor, no entanto algum propósito há nessa troca.

Beijos doces de seu sabor preferido.

bruno vilar disse...

Este senhor é um portento.

Andreia disse...

terei que roubar.
é mais forte que eu (:

_Sentido!... disse...

Contente com a tua curiosidade :-)
Este teu poema é lindissimo, permite-me porém discordar de ti.

Quem sabe se os melhores anos da tua vida não estarão ainda para vir?! Quem sabe se toda a apredizagem que adquiriste naqueles que julgas que perdeste não serão a mais valia para a tua felicidade futura?! Quem sabe?! Corre atrás dela, vá... :-)

Anónimo disse...

Adorei sua forma de escrever!Parabéns!
barbosa.juliana.zip.net

Cláudio disse...

Lindíssimo...
Parabéns.

Lídia Borges disse...

"E o pior é que chamamos liberdade
a um tapete que, rolante, já não ouve a opinião dos nossos pés; que nos leva para onde e anuímos, alheados, aos mecânicos desígnios do terror."
José Miguel Silva

observatory disse...

conheces este gajo?

um monumento de gente

nao ninguem como o miguel