24 março 2009

luís miguel nava / os olhos






Sempre que sobre mim poisava os olhos, o olhar dele era o de quem os volta para dentro de si próprio, como se nesse espaço me quisesse aprisionar ou dele, sem que eu sequer o suspeitasse, há muito me tivesse feito residente. Raro era, porém, surgirem sob as pálpebras, no rosto, onde seria de esperar vermo-los, esses olhos. Não o faziam senão quando, como depois veio a ser sabido, até aí com ímpeto os alçava o seu mar interior nas suas cristas.






luís miguel nava
poesia completa (1979-1994)
rebentação
publicações dom quixote
2002




3 comentários:

Unknown disse...

Muito bom seu blog, parabens. Procurava por poesias de Blaise Cendrars e ainda encontrei muito da poesia portuguesa.

Um abraço,
vinicius.

L.N. disse...

aos meus olhos um dos maiores poetas dos últimos trinta anos da língua portuguesa e que foi praticamente ignorado até à sua morte. e depois - e depois? - ficam os poemas.

O_ENVIADO disse...

Deixo-te o meu sopro....